Um legado a ser ensinado

03/02/2023 10:42

O Departamento de Jornalismo da UFSC manifesta seu profundo pesar pelo falecimento da jornalista Glória Maria.
Referência em representatividade negra e empoderamento feminino para diferentes gerações de brasileiros, Glória deixou marcas importantes no Telejornalismo. Em mais de cinco décadas, foi pioneira da reportagem participativa, cobrindo acidentes, conflitos, guerras, aventuras radicais, viajou e reportou costumes e histórias de mais de 150 países. Foi a primeira repórter a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, a cobrir a Guerra das Malvinas, a subir o Himalaia, a saltar de asa delta com a câmera e o microfone ligados. Foi também a primeira apresentadora negra de um telejornal brasileiro.

Com ousadia, curiosidade, simpatia, muito profissionalismo e qualidade no trato das informações, ela imprimiu ao Telejornalismo um jeito carismático de falar diretamente com o público, trazendo-o com ela para vivenciar as mais diferentes notícias. Glória Maria adentrou o cotidiano das pessoas, sem nunca abandonar o respeito pelos entrevistados – e a exigência de respeito pelo seu lugar no mundo.

Glória sai de cena deixando a importante lembrança de ter rompido as barreiras do racismo e da misoginia. Foi ela que evocou a Lei Afonso Arinos, em 1980, quando o racismo ainda era contravenção, em uma denúncia que a impediu de trabalhar por ser negra. Lutar pelo seu espaço, como jornalista e mulher preta, foi um desafio diário para quem atravessou reportando a ditadura militar e a realidade de um Brasil que ainda hoje subjuga mulheres e negros, bate recordes de feminicídio e persegue jornalistas.
Ainda assim, ela abriu e preparou o caminho para muitos que vieram e virão. E muitos são hoje os jornalistas que brilham e brilharão na profissão porque Glória Maria existiu antes deles. Para quem ensina e pratica o bom Jornalismo, é um legado que vive e seguirá pulsando.

 

Relembre a passagem de Glória Maria pelo centro do Roda Viva em 2022