“Sou mais manezinho que carioca…
Nasci no Rio sem querer, porque eu
não mandava em nada. Se pudesse
escolher, teria nascido em Santa Catarina,
em Florianópolis, no Saco dos Limões”
(Frank Maia)
Este é um espaço que estará para sempre reservado a Frank Maia, o genial chargista que em janeiro de 1994 saiu do Curso de Jornalismo da UFSC para fazer história e histórias com seu traço marcante, de delineado forte, crítico, sagaz e irônico. Carioca de nascimento e manezinho por gosto, foi em Florianópolis, para onde se mudou ainda menino com a mãe Célia, anfitriã e cozinheira de mão cheia de quem herdou a risada e o jeito despachado, que ele eternizou seu jornalismo ilustrado, se fez referência e querido por tanta gente.
Frank morreu aos 55 anos, na madrugada de 05 de junho, um domingo chuvoso de outono, após duas semanas internado, quando uma corrente de força de que só os grandes são capazes reuniu todos à última homenagem. Mais de 200 pessoas driblaram a chuva, a névoa e o domingo triste para estar ali, entre seu filho, suas filhas e seu amor, entre familiares, amigos, professores, irmãos de bola, colegas de curso e de profissão, conhecidos e desconhecidos que tanto se divertiram com suas charges, caricaturas e cartuns.
Frank não partiu sem as importantes camisas que vestiu. Foi lembrado pela contribuição que fez a jornais sindicais e à imprensa, pela música que tocou, pela bola que jogou, pelo amor aos seus amores, pelas críticas bem-humoradas à política e aos políticos deste Brasil tão desigual em que combateu o bom combate. Não ficaram de fora seus personagens, como As Véias, que tão bem descortinaram o cotidiano de absurdos fantasiados de normalidade.
Sobre o peito de Frank repousaram três camisas. A do Flamengo, paixão que fez questão de dividir com o filho e as filhas; a do Baiacu de Alguém, pelo envolvimento comunitário, pela devoção ao samba e ao carnaval de rua e pelo traço marcante nos desenhos do bloco de Santo Antônio de Lisboa, um dos bairros mais açorianos da Ilha. E a terceira, mais que especial, a dos Eternos Peladeiros Clube, o time de futebol ainda em campo que Frank ajudou a fundar em 2002, para quem desenhou o logotipo do escudo e emprestou a garra e a malícia de artilheiro.
Com a mesma raça de craque, anos antes Frank já fazia a diferença no inesquecível Torneio Manoel Tobias, de futsal, criado pelo Curso de Jornalismo da UFSC, onde a disputa era entre alunos, técnicos e professores. À época em que ilustrava os jornais da cidade, o futebol semanal acontecia nas quadras do Centro Social Urbano do Saco dos Limões, bairro onde morou depois que se mudou da rua Arno Hoeschel, no Centro. Daquele tempo, a emoção veio nas palavras de Rubens Vargas, o Rubinho, jornalista e contemporâneo da faculdade. “Um golaço dele foi contra o nosso time, o Real Lama. Eu estava ao lado e não quis marcar. Ele raspou de cabeça no primeiro pau, bateu na outra trave e… rede. Incrível. Nunca me esqueci desse gol. Mágico. Com estilo. Sabia cabecear, o Istepô”.
O estilo Frank hoje inundou de saudades as redes sociais, a internet, esta página e os veículos do Curso de Jornalismo. Em cada postagem, a palavra de professores e professoras, ex-colegas, uma charge ou cartum preferido de alguém, um personagem, um pedaço de vida e de amor compartilhado em lembranças.
No e-book Estrelas do Aquário v.1, lançado por ocasião dos 40 anos do Curso, há um perfil dele escrito em 2019 pela hoje formanda Iraci Helena de Oliveira Falavina, em que o jovem Frank primeiro esperneou com o Jornalismo, depois mirou e se encontrou na ilustração. Ali fala também do fanzine Fútio Indispensável, do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que desenvolveu com o colega Emerson Gasperin. A última entrevista de Frank a veículos do Curso, ainda inédita, foi em fins de 2021, à aluna Amanda Saori, em comemoração aos 40 anos do jornal-laboratório Zero.
De um Curso que formou cerca de 1.500 jornalistas, pouquíssimos se dedicaram à charge, à caricatura e ao cartum. Que o diga Zé Dassilva, calouro de Frank Maia. Como peças jornalísticas do gênero opinativo, a charge, o cartum e a caricatura, para serem bons, exigem uma equilibrada dose de crítica, bom humor, perspicácia, inteligência, informação e criatividade. Quanto mais antenados às sutilezas do real, tanto maior seu efeito jornalístico. Frank foi mestre nessa arte. Sabia provocar, o Istepô.

À essa alma leve e verticalmente criativa, dedicamos, a uma só voz na cerimônia do adeus, os versos da canção de Milton Nascimento e Fernando Brant: “Seja o que vier/ Venha o que vier/ Qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar/ Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar…”.
Texto por: Valentina Nunes | Epígrafes: Samuel Lima | Foto: Sérgio Vignes | Charge: Zé Dassilva